sábado, 1 de outubro de 2011

Aprendendo com o tempo

Faz 4 meses que nos instalamos em Buenos Aires. Viemos no finalzinho do outono, passamos por todo o tenebroso e frio inverno e já entramos na primavera, onde tudo é mais vivo e alegre.

Nesse período, tenho que confessar que tivemos momentos muito difíceis, principalmente no começo. O processo de adaptação ficou mais complicado por causa do clima. Saímos de Vitória, onde fazia entre 25 e 30 graus, céu quase sempre azul, praia e caímos de pára-quedas em Buenos Aires, com tempo sempre cinza e temperaturas entre 3 e 10 graus. Em Vitória o dia amanhecia às 06:30h, aqui às 08:30h.

Aqui tivemos a prova concreta de que o clima afeta o comportamento, o humor e a forma como as pessoas se relacionam entre si. No inverno de Buenos Aires, tudo está em tons de cinza, desde o céu até o humor das pessoas, passando pelas roupas.

Para quem chegou sem falar patavinas em espanhol e ainda teve que enfrentar toda essa mudança acho até que nos saímos muito bem. Claro que houve momentos de choro, de profunda tristeza, de imensa saudade, mas no final, nos saímos bem.

Tive a oportunidade de conhecer um pouco não só de Buenos Aires, mas também de La Plata, Mendoza, Bahia Blanca, Neuquén. Cidades bem distintas localizadas em regiões bem diferentes e nesses 4 meses, também ficou claro que a Argentina não é uma maravilha do primeiro mundo, tampouco é o fim do mundo. Existem aqui coisas muito boas que nós brasileiros deveríamos adotar, mas há momentos em que eu daria tudo para implantar certas melhorias que já temos na sociedade brasileira.

Uma coisa que gosto muito aqui é a forma como eles comem e uma coisa que não gosto é a comida.

Explicando: de um modo geral, o argentino faz das refeições um ritual onde matar a fome é apenas um dos resultados esperados. Os intervalos das refeições também são dedicados a conversar com os amigos, colegas de trabalho, clientes, fornecedores e quase nunca se fala de trabalho. Eles aproveitam esses momentos para se divertir. Existe uma quantidade imensa de restaurantes e, principalmente, cafés por toda a cidade e eles passam muito tempo nesses locais.

Por outro lado, lhes falta variedade e sabor na comida. De um modo geral todos os restaurantes são a la carte e você tem direito a um prato quente e um acompanhamento. Encontrar um restaurante regional que sirva um prato multicolorido com arroz, feijão, carne, salada e um complemento (batata, farofa, etc) - tipo o nosso prato executivo - é a mais inglória das tarefas. Além disso, falta sal e condimentos na comida. Em alguns lugares a carne é assada sem nenhum tempero e o que você vai encontrar para melhorar o sabor é somente Pimenta do Reino. Alho e pimentas frescas ou em conservas são coisas inexistentes.

Aí, como em toda nova cidade que você for viver, terá que experimentar, identificar o que você gosta e eleger seus restaurantes favoritos.
Nesses 4 meses também aprendi que Puerto Madero é um local muito bonito em qualquer época do ano, mas que é bom somente para turistas pois não possui uma boa estrutura de base - supermercados, farmácias, etc. e que se você quiser mesmo curtir a cidade, deve experimentar ficar em Palermo ou na Recoleta.

De um modo geral, o argentino é muito receptivo. Apesar de estar mais acostumado aos brasileiros, o porteño (cidadão de Buenos Aires) é mais elitista e bairrista. O povo do interior é mais aconchegante, apesar da maior dificuldade de comunicação pois eles falam um espanhol muito corrido.

Uma coisa que mudou realmente é que agora estamos aprendendo a beber vinho. Não tínhamos esse hábito no Brasil mas como aqui a bebida está incorporada ao cotidiano, não houve como escapar. E aqui há uma oferta incrível de excelentes vinhos a preços muito, mas muito em conta.

Um outro item que tenho que pontuar é sobre a lenda de que as coisas em Buenos Aires são mais baratas que no Brasil. Não sei de onde surgiu essa impressão, mas afirmo com propriedade que ela é falsa. Alguns ítens de vestuário, transporte, combustíveis e alguns tipos de alimento (incluindo vinhos) realmente são mais baratos mas transportes e combustíveis não servem como referência pois são fortemente subsidiados pelo governo. Mas de um modo geral, tudo custa ou a mesma coisa ou 10% mais que no Brasil.

Bem, agora estamos esperando pelo verão que todos dizem ser muito quente e abafado. Talvez para nós, será a época mais "aconchegante" por ser a mais parecida com o que estávamos acostumados no Brasil.

Informação de última hora: o alfajor da Havana não é nem o mais barato, nem o mais gostoso. Vale a pena experimentar outros mais caseiros.


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