domingo, 16 de outubro de 2011

Patagonia indomável

Esta semana tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a região da fronteira entre as províncias de Neuquén e Mendoza.

A jornada foi longa com 1:50h de avião entre Buenos Aires e Neuquén, 4:30h de caminhonete até Rincón de Los Sauces e mais 1:30h também de caminhonete cruzando a fronteira para a província de Mendoza até um lugar chamado Yacimientos.


Como já havia mostrado antes, a paisagem de toda essa região é semi-desértica com grandes, enormes planícies e você se sente meio perdido no meio de tando espaço vazio. É tudo tão selvagem, intocado pelo homem que parece que estamos em outro planeta.





Mas existem grandes surpresas. Yacimientos está próximo a um vulcão que se destaca na paisagem e toda a região é coberta por uma grande quantidade de rochas negras e arredondadas, como castalhos de rio. O terreno é de terra clara e as rochas parecem estranhas àquela região.




No meio de uma grande planície existe um canyon com desnível de 200m chamado Cañadon Amarillo. É uma formação natural impressionante pois deixa à mostra camadas de rocha de diferentes tons de amarelo e o que se parece com um curso de rio no fundo possui pedras em ton azulado.

Nessa região foi descoberto recentemente uma série de fósseis de dinossauros em perfeito estado e o mais importante é que foi encontrada uma cabeça completa dentro de uma única rocha. Por causa disso, toda a região é considerada um importante sítio arqueológico e está sendo criado um museu em Rincón de Los Sauces para abrigar o material descoberto.


Cañadon Amarillo


Talvez o maior desafio é que a região é grande produtora de petróleo (aqui chamado de Guanaco) e existem poços de espalhados por todos os cantos. O óleo é extraído por aquelas bombas em formato de cavalo mecânico e os poços são conectados a tanques de armazenamento por uma rede de tubos que ficam enterrados próximos à superfície. É surreal. "No meio do nada havia um poço, havia um poço no meio do nada".

Não é comum chover nessa região, mas quando ela ocorre podem acontecer duas coisas: ou a água simplesmente não chega à terra, ou cai tanta água que mesmo a terra seca não consegue absorver e aí se formam "rios" no meio do deserto. Eu tive a oportunidade de ver o primeiro efeito. A temperatura cai, o tempo fica cinza, venta bastante, você sente a mudança de umidade no ar, vê a chuva no céu, mas não cai uma única gota no chão.



O rio Colorado faz a divisa entre as provícinas de Mendoza e Neuquén e é realmente estranho ver um rio que não é muito profundo mas que permanece firme mesmo nas épocas de maior seca e percorre toda a Patagônia até o Atlantico. Segundo os moradores locais, nessa região é possível pescar salmões de até 2Kg que possuem uma carne tão suave e doce que quase não é necessário cozimento.


Bem, já disse antes mas vale reforçar que Neuquén é um dos maiores produtores de maçã da Argentina. O que posso dizer é que quando visitei a região no inverno, o cinza era a cor predominante, no céu e na terra. Agora, na primavera, está tudo completamente diferente. Os pés de maçã e pera estão todos floridos e há um perfume doce no ar. É incrível ver um pé de maçã em flor.

Para os discípulos de Baco, a região oferece diversão garantida pois abriga várias bodegas, algumas bem conhecidas como a Bodega del Fin del Mundo. Eu consegui 3 garrafas de vinho (Merlot, Pino Noir e Chardonair) de safras muito boas e excelente qualidade por apenas R$ 80,00. Para quem vier entre outubro e novembro, recomendo também a visita às plantações de maçã.



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sábado, 1 de outubro de 2011

Aprendendo com o tempo

Faz 4 meses que nos instalamos em Buenos Aires. Viemos no finalzinho do outono, passamos por todo o tenebroso e frio inverno e já entramos na primavera, onde tudo é mais vivo e alegre.

Nesse período, tenho que confessar que tivemos momentos muito difíceis, principalmente no começo. O processo de adaptação ficou mais complicado por causa do clima. Saímos de Vitória, onde fazia entre 25 e 30 graus, céu quase sempre azul, praia e caímos de pára-quedas em Buenos Aires, com tempo sempre cinza e temperaturas entre 3 e 10 graus. Em Vitória o dia amanhecia às 06:30h, aqui às 08:30h.

Aqui tivemos a prova concreta de que o clima afeta o comportamento, o humor e a forma como as pessoas se relacionam entre si. No inverno de Buenos Aires, tudo está em tons de cinza, desde o céu até o humor das pessoas, passando pelas roupas.

Para quem chegou sem falar patavinas em espanhol e ainda teve que enfrentar toda essa mudança acho até que nos saímos muito bem. Claro que houve momentos de choro, de profunda tristeza, de imensa saudade, mas no final, nos saímos bem.

Tive a oportunidade de conhecer um pouco não só de Buenos Aires, mas também de La Plata, Mendoza, Bahia Blanca, Neuquén. Cidades bem distintas localizadas em regiões bem diferentes e nesses 4 meses, também ficou claro que a Argentina não é uma maravilha do primeiro mundo, tampouco é o fim do mundo. Existem aqui coisas muito boas que nós brasileiros deveríamos adotar, mas há momentos em que eu daria tudo para implantar certas melhorias que já temos na sociedade brasileira.

Uma coisa que gosto muito aqui é a forma como eles comem e uma coisa que não gosto é a comida.

Explicando: de um modo geral, o argentino faz das refeições um ritual onde matar a fome é apenas um dos resultados esperados. Os intervalos das refeições também são dedicados a conversar com os amigos, colegas de trabalho, clientes, fornecedores e quase nunca se fala de trabalho. Eles aproveitam esses momentos para se divertir. Existe uma quantidade imensa de restaurantes e, principalmente, cafés por toda a cidade e eles passam muito tempo nesses locais.

Por outro lado, lhes falta variedade e sabor na comida. De um modo geral todos os restaurantes são a la carte e você tem direito a um prato quente e um acompanhamento. Encontrar um restaurante regional que sirva um prato multicolorido com arroz, feijão, carne, salada e um complemento (batata, farofa, etc) - tipo o nosso prato executivo - é a mais inglória das tarefas. Além disso, falta sal e condimentos na comida. Em alguns lugares a carne é assada sem nenhum tempero e o que você vai encontrar para melhorar o sabor é somente Pimenta do Reino. Alho e pimentas frescas ou em conservas são coisas inexistentes.

Aí, como em toda nova cidade que você for viver, terá que experimentar, identificar o que você gosta e eleger seus restaurantes favoritos.
Nesses 4 meses também aprendi que Puerto Madero é um local muito bonito em qualquer época do ano, mas que é bom somente para turistas pois não possui uma boa estrutura de base - supermercados, farmácias, etc. e que se você quiser mesmo curtir a cidade, deve experimentar ficar em Palermo ou na Recoleta.

De um modo geral, o argentino é muito receptivo. Apesar de estar mais acostumado aos brasileiros, o porteño (cidadão de Buenos Aires) é mais elitista e bairrista. O povo do interior é mais aconchegante, apesar da maior dificuldade de comunicação pois eles falam um espanhol muito corrido.

Uma coisa que mudou realmente é que agora estamos aprendendo a beber vinho. Não tínhamos esse hábito no Brasil mas como aqui a bebida está incorporada ao cotidiano, não houve como escapar. E aqui há uma oferta incrível de excelentes vinhos a preços muito, mas muito em conta.

Um outro item que tenho que pontuar é sobre a lenda de que as coisas em Buenos Aires são mais baratas que no Brasil. Não sei de onde surgiu essa impressão, mas afirmo com propriedade que ela é falsa. Alguns ítens de vestuário, transporte, combustíveis e alguns tipos de alimento (incluindo vinhos) realmente são mais baratos mas transportes e combustíveis não servem como referência pois são fortemente subsidiados pelo governo. Mas de um modo geral, tudo custa ou a mesma coisa ou 10% mais que no Brasil.

Bem, agora estamos esperando pelo verão que todos dizem ser muito quente e abafado. Talvez para nós, será a época mais "aconchegante" por ser a mais parecida com o que estávamos acostumados no Brasil.

Informação de última hora: o alfajor da Havana não é nem o mais barato, nem o mais gostoso. Vale a pena experimentar outros mais caseiros.


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