quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Natal em Buenos Aires


Pela primeira vez vamos passar o Natal fora do Brasil, muito porque como a data caiu num final de semana e não teríamos folga para ir ao Brasil, mas também porque concordamos que era uma boa oportunidade de festejar de um jeito novo, um jeito "argentino".


Em Buenos Aires, e acredito que na Argentina em geral, existe uma forte tradição de passar o Natal com a família. É essencialmente uma festa familiar, onde várias gerações se encontram ao redor de uma grande mesa para comer e principalmente beber. Mesmo os adultos mais jovens seguem a tradição e gostam que seja assim.


Nós optamos por fazer o mesmo. Ficar em casa, preparar uma ceia o mais tradicional possível e distribuir nossos presentes e votos de felicidade. Assim preparamos tudo e montamos uma parafernália tecnológica que nos definiria 
realmente como família globalizada.


Para a ceia, não poderia faltar o mais que tradicional peru. Aqui o peru se chama "pavita" e por mais que tenhamos buscado um produto genuinamente nacional, só encontramos peru da Sadia - isso mesmo, aquele que já vem temperado e tem um termômetro que avisa quando está pronto! Foi muito divertido porque já tínhamos perdido as esperanças e estávamos preparados para fazer um frango com farofa até que um belo dia encontrei a tal pavita no supermercado, com carimbo do Ministério da Agricultura do Brasil e tudo.


Com o peru garantido, o desafio foi montar uma farofa. Como ainda não conseguimos encontrar por aqui farinha de mandioca, o jeito foi usar uma porção que veio do Brasil numa das nossas viagens. E já que estávamos usando e abusando de nosso estoque de comidas da terrinha, agregamos pimenta biquinho para dar aquele toque de "chef".


Vencida esta etapa, foi a vez de providenciar a comunicação com a família de minha esposa. Ligamos o computador à televisão, recuperamos uma antiga webcam, conectamos no Skype e "voilá", estávamos com parte da família no Brasil.


Como o Brasil está 1h à frente da Argentina por causa do horário de verão, nossas orações, a troca de felicitações e a ceia aconteceram mais cedo mas mesmo assim foi tudo perfeito.


De modo geral, a noite foi muito tranquila e desde o início da tarde as ruas já estavam vazias. Recomendaria a todos vir a Buenos Aires depois do Natal. Para quem gosta de passar essa data em familia, estar aqui não é a melhor das opções. Para quem gosta de bares e festas, estar aqui também não é a melhor opção.


Agora vamos aguardar o Revellion.






sábado, 24 de dezembro de 2011

Bairro Chines


Eu e minha esposa já queríamos conhecer o "Barrio Chino" desde que chegamos em Buenos Aires mas sempre havia algo mais importante a fazer e sempre estávamos adiando. 


Na semana passada durante um almoço de negócios surgiu o assunto do que se podia comprar no bairro e decidi então que tínhamos que fazer uma visita o mais rápido possível. Resolvemos ir no sábado de Natal e a estratégia foi simples e acertada. Sair cedo de casa para pegar as lojas quando elas estariam abrindo e evitar o tumulto das compras de última hora.




Passamos pela Calle Florida para trocar um presente e seguimos de metrô via linha D diretamente para a estação Juramento. a partir daí são 7 quadras a pé até o portal de entrada que fica na esquina de Juramento com Mendoza. 





Apesar de parecer muito para caminhar o cenário do bairro é muito interessante, com praças, restaurantes, cafés e uma arquitetura muito característica. Perto da estação Juramento existe uma igreja em estilo grego-romano, formato circular e colunas por toda a fachada. É uma obra incrível.




Logo na entrada do bairro já há uma mudança radical na decoração das lojas, das ruas e no comportamento das pessoas. De cara você já  escuta vários idiomas distintos: espanhol, português, ingles e mandarim que é muito falado pelos moradores e comerciantes. As ruas são mais estreitas, as casas são muito mais coloridas e, por mais estranho que pareça, existe uma influência muito forte da arquitetura espanhola nas residências. Há pequenas vilas de solares conjugados que foram construídos no início do século 19. Uma mescla de modelos e cores muito particular.


Portal do Barrio Chino 


Vila em estilo espanhol do inicio do século


Existem vários supermercados e restaurantes com itens predominantemente chineses e japoneses e há produtos que eu nunca havia visto antes em nenhum outro supermercado de Buenos Aires. Desde ervas secas até moluscos e carangueijos, passando pelas partes de porco sopas. Se você é fã de comidas exóticas, opção é o que não falta.


Duas coisas que dificultam um pouco as compras lá é que a maioria da embalagens tem instruções em chines e os supermercados só aceitam pagamento em dinheiro. Esteja preparado para perguntar muito para tirar dúvidas, passe antes num caixa eletrônico e saia de casa com objetivos bem claros para não se perder no meio de tanta oferta e tanta novidade.


Tempero para frango Knorr


O "Barrio Chino" não é o melhor lugar de Buenos Aires para se comer em restaurantes. Os preços são altos e não há tanta coisa diferente. Se você está de férias em hotéis, vale mais a pena comer em Palermo Soho. Se você está em casa de amigos, o ideal é ir lá para comprar itens para preparar um almoço ou jantar mais que especial.


Como não poderia faltar, nessa época de festas de fim de ano, o "Barrio Chino" tem uma infinidade de lojinhas com itens de decoração bem legais e com preços atraentes. Mas tem que bater muita perna.


Vale a pena reservar um tempo para conhecer esta pérola de Buenos Aires, mesmo que seja só para caminhar pelas ruas. 






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sábado, 17 de dezembro de 2011

El Calafate e Perito Moreno

Desde que chegamos aqui na Argentina minha familia tem me cobrado ir para um lugar onde haja neve. Mas como durante o inverno já foi difícil a adaptação em Buenos Aires e agora que estamos no verão não há praticamente nenhuma estação de esqui aberta, ainda estou em dívida com elas.

Mas recentemente consegui me redimir um pouco. Aproveitando um final de semana prolongado (de quinta a domingo) viajamos para El Calafate que fica no sul da Argentina, muito próxima à cordilheira e que apesar do verão, preserva neves eternas e glaciares magníficos.






El Calafate fica a 3 horas de voo de Buenos Aires no extremo sul da Argentina. É famosa pela grande quantidade e facilidade de acesso a geleiras e glaciares. O mais famoso desses monumentos pré-históricos de gelo é o Glaciar Perito Moreno, mas além dele existem outros tantos que se pode conhecer com relativa facilidade.

A melhor época para ir lá é exatamente no verão, principalmente nos meses de dezembro e janeiro. Nesse período é possível aproveitar todos os passeios de barco, as visitas aos glaciares, os enduros promovidos pelas agencias e as largas caminhadas pelos infinitos campos da Patagonia austral.



Vista geral da cidade
Lago Argentino e Cordilheiras
Vegetação típica da região


Claro que existe muito turista também no inverno (principalmente brasileiros) quando a cidade parece um vilarejo saído de um conto de natal, toda coberta de uma neve muito branca, mas você tem que estar realmente preparado pois as temperaturas giram em torno dos -20 graus Celsius. Vale lembrar também que no verão amanhece às 5:00h da manhã e o sol se põe às 22:30h.

Para quem vai a El Calafate é primordial conhecer 3 coisas: Perito Moreno, o Lago Argentino e seus icebergs e El Chaltén.



Perito Moreno é um dos mais impressionantes glaciares da Argentina. Trata-se de uma grande coluna de gelo que desce das montanhas através de um vale e termina num dos braços do Lago Argentino. Fica dentro do Parque dos Glaciares, uma reserva natural tombada pela Unesco que concentra a maioria das geleiras da Argentina e fauna e flora endêmicas da região austral das Américas.




A parte da geleira que toca o lago tem uma altura de até 30m acima do nível d'água e uma profundidade que pode chegar a 350m. Medições realizadas por especialistas em 2010 identificaram uma espessura de gelo de 1200m no meio da geleira. Já imaginou um bloco de gelo compacto de 1200m de altura ?!?!




Apesar desse tamanho todo, Perito Moreno é considerada uma geleira rápida pois na parte central o gelo se move em média a 1m por dia, enquanto que outras geleiras de igual tamanho não chegam a poucos centímetros por dia.

Agora vamos fazer um exercício: cada metro cúbico de gelo pesa aproximadamente 900Kg. Imagine quanto pesa um bloco de 1000 metros cúbicos! Agora imagine tudo isso caminhando 1 metro por dia sobre a rocha. Bem, não há nada que possa resistir a isso, nem mesmo a pedra mais dura.

É por isso que, junto com os vulcões, as geleiras são a maior força transformadora da Natureza. A região ao redor de Perito Moreno é cheia de rochas riscadas, algumas com ranhuras mais profundas, outras mais suaves, mas todas seguindo o mesmo sentido. Durante a era glacial, a geleira deixou aí suas marcas e ajudou a formar o relevo da região.


Outra coisa muito interessante de Perito Moreno é que esta é a única geleira do mundo em que se pode caminhar sem necessidade de preparo especial e utilizando somente um sapato de pregos (ou grampones) que fica preso sobre o seu calçado.


Grampones usados nos pés para permitir a caminhada no gelo

A caminhada é muito interessante pois apesar de estarmos sobre gelo, o clima é mais quente que em terra pois não há tanto vento. Além disso, você percebe que a geleira não é um bloco único mas é formada de infinitos pequeninos cubos de gelo. Há locais em que ho gelo é azul, há locais em que ele é sujo devido à mistura com material das rochas do alto das montanhas. Há rios de água cristalina e pura que correm por cima e por baixo da camada de gelo.






Mesmo com toda essa estrutura, a geleira está em constante mudança. Durante o verão, uma camada de 20cm de gelo da superfície derrete diariamente e somando-se a isso o movimento da geleira, você sempre encontrará um cenário diferente a cada dia.

Um espetáculo a parte é assistir à queda dos blocos de gelo que se desprendem do paredão e caem na água do lago formando icebergs. Primeiro há um estalido muito forte que é ouvido a kilometros e depois a massa de gelo de desprende e cai na água com um barulho ensurdecedor. Tivemos a oportunidade de ver um pedaço de mais ou menos 10 metros de altura de desprender do alto do paredão. É magnífico!




Na cidade de El Calafate você pode contratar excursões diárias para conhecer o parque, o glaciar e fazer a caminhada sobre o gelo. O pacote completo incluindo transporte e a caminhada sai por USD 120,00 e não está inclusa a entrada no parque (USD 10) e alimentação. Mesmo no verão recomenda-se roupa abrigada, luvas, meias grossas, gorro, óculos escuros e (não pode faltar) protetor solar fator 30. Fizemos o roteiro com a empresa Hielo & Aventura que possui um nível de profissionalismo e atenção muito bons. O transporte busca e devolve você no hotel onde estiver hospedado. Os guias são bem preparados e falam em espanhol e inglês.

Se você estiver acompanhado de 2 ou 3 pessoas e não for fazer o passeio sobre o gelo, recomendo alugar um carro. Além de você ter mais liberdade e flexibilidade, mesmo com o valor da entrada no parque, o custo total é bem menor. E não se preocupe com comida pois no parque há uma excelente infra-estrutura com restaurante e banheiros muito bem montados e mantidos.

Vou descrever os demais locais em posts distintos para não ficar muita informação junta. Aguardem.

Na seção "Cenas da Vida" aí ao lado existem várias fotos da região. Aproveitem.



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Uma viagem pela produção de vinho

Recentemente estive em Mendoza para participar de um evento da empresa onde trabalho. Foi algo como um balanço de fim de ano, onde apresentamos tudo que fizemos no ano que passou e nossas metas para o próximo período.

A rotina durante o dia foi meio monótona, mas como o evento aconteceu numa vinícula (aqui chamada de bodega), no final da tarde tivemos a oportunidade de fazer um tour pelas instalações acompanhados de um guia que foi explicando todo o processo de produção do vinho, desde a escolha das uvas (ou cepas) até os cuidados com a distribuição final, visando claro garantir a qualidade do produto.

A vinícola Salentein produz vinhos de alta gama e cortes tradicionais para atender desde os paladares mais requintados até o consumidor comum. Fica aos pés da Cordilheira dos Andes e possui mais de 23Km2 de terras planas totalmente utilizadas para videiras.


Vista da bodega Salentein com a Cordilheira ao fundo


Videiras da área central da bodega


Pátio de entrada






Durante a visita aprendemos que junto com as linhas de videiras são plantadas rosas escarlate porque esta última é muito mais sensível à perda de nutrientes do solo, assim servem para antecipar qualquer problema e evitar que as uvas sejam impactadas.






A produção de vinho é totalmente automatizada e a estrutura da vinícola é construída de forma que se possa transportar o precioso líquido entre as diferentes fases do processo simplesmente utilizando a gravidade. Assim evita-se que o vinho sofra interferências não desejadas de contaminantes externos e até mesmo de vibrações e ruído. A vinícola tem 5 andares abaixo do solo.








O estágio final de armazenamento acontece em barricas de carvalho que ficam armazenados num grande salão onde há um piano. Neste local, a empresa promove noites musicais para convidados especiais onde são apresentadas peças de Mozart, Chopin, Betoven e, acreditem, Vila Lobos e Antonio Carlos Jobim! Segundo a guia que nos acompanhava, as músicas são minuciosamente escolhidas para não perturbar a harmonia dos vinhos nos barris.









Depois de conhecer as instalações, fomos convidados a uma degustação onde foram descritas técnicas simples de identificação dos vinhos pela cor, translucidez, aroma, oleosidade e reação degustativa. Esse último processo é feito quando você coloca uma certa quantidade de vinho na boca mas não o bebe. Faz um bocejo e aguarda um pouco até que as papilas gustativas possam reagir aos elementos do vinho e só então você bebe o vinho. Segundo os guias, você consegue perceber os sabores reais e até mesmo identificar percepções como café, chocolate, frutas cítricas, amendoa, etc. Essa parte me lembrou um pouco o filme Ratatoulle onde o ratinho fica descrevendo sabores e sensações, mas confesso que não consegui chegar tão longe nessa análise. Vou ter que evoluir muito...rsrsrsrs.



Garrafas em período de descanso aguardando a distribuição final



De qualquer forma, valeu muito a pena conhecer um pouco mais desse universo que é a produção de vinhos na Argentina. Só a província de Mendoza responde por 75% de toda a produção de vinhos da Argentina e os caras são extremamente especializados e levam o assunto muito a sério.

Estou programando agora uma visita de fim de semana a uma vinícula durante o verão - fevereiro ou março. Prometo contar todos os detalhes para que vocês tenham material para também agendar uma visita num período de férias.




Depois desse evento tive que viajar ao Brasil e na volta a TAM perdeu a minha mala. Ainda não consigo compreender como mesmo utilizando tantos recursos tecnológicos, eles não conseguem localizar uma simples mala. Tive que esperar 5 dias para que eles me devolvessem e descobri que a mala tinha ido passear em Paris. Faz todo sentido né: Paris fica mesmo entre São Paulo e Buenos Aires!!  Mas isso é assunto para outro post.


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Mostra de arte fotográfica

Faz muito tempo que não posto nada e não é pela falta de assunto, mas sim pela falta de tempo.

Faz mais ou menos 40 dias fui a uma exposição de fotos. A proposta da mostra era divulgar o trabalho de artistas locais que usam a fotografia na composição de suas obras. É muito comum esse tipo de mostra ou exposição aqui em Buenos Aires e como gosto de fotografia, imaginei ser uma oportunidade interessante de ampliar minha percepção fotográfica.

Na realidade foi um grande desapontamento. Me senti totalmente deslocado e com a impressão de que eu era o único verme insensível daquele lugar, um troglodita, um ser pré-histórico.

O conceito de arte fotográfica apresentado era totalmente inexplicável. Quase nenhum trabalho tinha nexo ou um mínimo de sentido. Coisas abstratas; fotografias borradas, manchadas ou fora de foco; fotos picotadas misturadas com papel amassado; borrões de tinta em cima de papel fotográfico; uma loucura.

Somente duas fotos realmente me chamaram a atenção, nem tanto pela beleza,mas muito mais pelo contexto. Nesses dois casos, realmente parei para analisar e para apreciar. O resto ficou sendo um grande monte de besteira de alguém que fumou muita maconha mofada. Mas isso é arte!

De qualquer maneira, não vou desistir de frequentar a outras exposições e mostras nos museus. A cidade oferece uma infinidade de opções e somente participando é que terei a chance de separar o joio do trigo.

Buenos Aires é assim. Oferta de cultura não falta, mas você tem que saber o que realmente quer ver.


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