domingo, 1 de julho de 2012

O complicado caminho da política na Argentina

"Não existe país sub-desenvolvido. Existe país sub-administrado" - dito popular.

Acho que esta frase reflete perfeitamente a atual situação da Argentina. A situação política-econômica-social por aqui fica cada dia pior - inflação sem controle, índices oficiais maqueados, descontrole nos gastos públicos, estatização de empresas rentáveis, quebra de contratos, reserva de mercado com  aplicação excessiva de restrições comerciais, uso abusivo e indiscriminado da máquina pública para questões pessoais, controle da imprensa, inexistência de investimentos na manutenção da infra-estrutura de transportes.
Talvez o mais grave seja o que a oposição está chamando de "soberba cega e destrutiva" da Presidenta. Pelo discursos e postura diante da situação do país, Cristina K se considera o último pilar da moral e dos bons costumes, mas pratica a rapinagem dos recursos do povo de forma ampla e descontrolada. 

Tudo aqui é complicado. De um lado, há aumentos quase que diários nos preços de coisas básicas como comida, combustível, transporte; há falta de itens importantes como remédios, equipamentos médicos, peças de reposição de equipamentos agrícolas e industriais, faltam até sergindas e vacinas. Mas de outro lado, o argentino continua viajando para Punta Cana, Madri, Sidney e Tóquio, se endividando no cartão de crédito e nos empréstimos bancários e escondendo dólares embaixo do colchão. 

Sinceramente não consigo chegar a um resultado racional e benígno para este país. Já tem economista e grandes empresários falando em uma nova quebradeira geral com prazo para ocorrer em, no máximo, um ano se a situação continuar nesse rítmo.
Preços dos alimentos sofrem aumentos diários na capital federal


Os brasileiros que vem fazer turismo já perceberam que Buenos Aires deixou de ser a meca dos produtos de qualidade com preços baixos. Ainda existem itens que resistem e que são realmente atrativos se comparados com o mercado brasileiro, mas se não fosse pelo custo da passagem de avião, Nova York e Orlando já seriam um substitudo muito mais atraente, principalmente agora com a queda das exigências para o visto americano.
Para tentar se livrar do stigma de "populista corrupta e inescrupulosa" a presidenta chora em todos os discursos. Na realidade ela já começa o discurso com uma voz embargada e irregular. Dizem as más linguas que é para comover a grande massa popular e causar empatia. O discurso que ela fez na ONU para reclamar sobre a situação das Malvinas é o exemplo mais claro. Pessoalmente gostei mais da postura do chanceler ingles.

Politicamente falando e respeitando as devidas proporções e história, o país está muito mais para Venezuela/Bolívia do que para Brasil/Chile e isso é preocupante. As ações do governo tem um tom extremadamente populista, sem muita avaliação de risco de longo prazo e com forte cunho de propaganda política. O congresso é 100% controlado pelo governo e é o único órgão autorizado a publicar os índices de inflação do país. Não há oposição consolidada. Os sindicatos tem o poder de fato sobre o país e ditam as regras para as grandes ações de desenvolvimento tais como obras de infra-estrutura (estradas, portos, aeroportos, ferrovias) e regras de contratação de pessoal mesmo para empresas privadas.

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2012/01/governo-argentino-decreta-que-e-crime-divulgar-inflacao-real-do-pais.html
"Jan/2012 - Governo argentino decreta que é crime divulgar inflação real do país: Na Argentina, a economia afunda. Nas ruas ou nas lojas, todo mundo vê a escalada dos preços. Mas não é isso que os índices oficiais mostram"
http://www.economist.com/node/21548242
"Fev/2012 - Don't lie to me Argentina: Why we are removing a figure from our indicator pages"
Como consequência, já começou o movimento de queda econômica. Esta semana foram anunciados novos aumentos na sexta básica; nos transportes e nas tarifas públicas; uma empresa de alimentos com 64 anos de história deverá fechar suas atividades pela impossibilidade de continuar trabalhando dentro das atuais regras cambiárias; uma mineradora que explorava ouro cancelou o projeto para abertura de nova mina e reduziu drásticamente as operações da mina existente; grandes investidores estão retirando do país milhões de dólares em divisas.

Esperemos que a clareza de pensamento se estabeleça rapidamente e que junto venham ações políticas de correção de rumo, porque a continuar assim, o que espera este grande navio são apenas os recifes, e das Malvinas....

Noticias da semana:
"El espresso alrededor de AR$ 12,00 (R$ 5,00): El precio promedio en bares porteños se equipara a los 2 euros de París, Madrid o Roma. Y a los UUS$ 3 que vale en la Gran Manzana. Aumentó en los últimos meses, por el alza de costos y salarios"
"En el último mes, los precios de la canasta básica se aceleraron de manera abrupta, según el último relevamiento de la entidad de usuarios Adelco. Este sondeo, hecho sobre 28 productos de marcas líderes que integran la canasta familiar determinó un aumento promedio del 9,3% . A su vez, los productos más económicos de las góndolas, se encarecieron 7,51%, según informó ayer la entidad..."
"Aguinaldo (13o. salário) en cuotas: la Provincia dice que el Gobierno “se borró”: La respuesta del sciolismo al recorte en el envío de fondos de la Nación, que obligó a la provincia a desdoblar el pago de aguinaldos, llegó con argumentos técnicos y políticos"

Este é um pouco demorado e com uma boa pitada de propaganda comercial mas é interessante do ponto de vista de dados históricos:
http://landings.igdigital.com/ad-fin-de-la-argentina-s/oB-YWR3b3Jkc3xQcm9tb0ZpbkFyZ1N8dGFsa2luZ1Byb21v-oE?gclid=CMbnu8jY-LACFQgFnQodvzkK7w