sábado, 18 de maio de 2013

FIM DA AVENTURA


Bem, finalizamos mais uma aventura. No dia 15 de maio de 2013 deixei para trás o território argentino de volta ao Brasil.


Foram 2 anos de grandes desafios, descobrimentos, aprendizado, alegrias e tristezas. De tudo que passamos e vivemos, talvez o mais significativo, a mudança mais importante foi a quebra dos pré-conceitos relacionados a outras culturas, o rompimento com o "bairrismo".

Buenos Aires é uma cidade cosmopolitana, que abriga pessoas e culturas do mundo todo em perfeita harmonia. Em nenhum outro lugar por onde andei, tive a chance de ver e manter contato tão diverso com pessoas de religiões e nacionalidades diferentes. No dia a dia você facilmente encontra judeus, muçulmanos  hinduístas, budistas, taoistas, católicos e protestantes e nas ruas da cidade também é comum cruzar com pessoas de Israel, Arábia Saudita, África, China, Malásia, países da Europa e de toda América Latina, Estados Unidos, México, além é claro das diversas províncias Argentinas. O contato com essa pluralidade muda sua visão do mundo, te abre a mente, te preenche de cultura.


Além disso, ainda aprendemos a lidar com os jeitos e trejeitos de uma cultura bem diferente da brasileira. Apesar da pouca distancia geográfica, o argentino vê e trata as coisas de forma diferente e, em muitos momentos, percebemos isso cometendo erros e gafes terríveis.

Mas tudo valeu como aprendizado e como impulsionador de crescimento. Crescemos como pessoas, como família, como cidadãos e como profissionais.

Agora é olhar para frente e buscar novos desafios, novas emoções.

Para manter a linha instrutiva e orientativa do blog, vou deixar um último conselho para quem pretende viajar para o país do tango nos dias atuais: venham com dólares.

Como já apresentei em posts anteriores (Complicado caminho da politica na ArgentinaInstabilidade Econômica ) a economia argentina afunda a cada dia num abismo que parece não ter fim. O governo da presidente Cristina Kirchner criou uma cópia mal feita do modelo "chavista" e adotou uma postura de arrogância e desprezo, tanto em relação às instituições democráticas do país, quanto à política e relacionamentos internacionais.

A inflação real é alta, o governo maquia números e segue com o discurso de que está tudo bem, mas perdeu o controle do cambio, em especial do dólar  A maioria das redes de comunicação é controlada pelo governo mas mesmo assim a "mídia livre" publica diariamente notas sobre corrupção no alto escalão, evasão de divisas de amigos do governo e desrespeito às instituições e empresas que pertencem a oposição.

Nas primeiras semanas de maio, a cotação do dólar chegou chegou a AR$ 5,20 (oficial) e AR$ 10,45 (paralelo). São 100% de diferença!!! Nem nos piores momentos da economia brasileira isso aconteceu.

Anúncio de cotação praticada por loja na Feira de San Telmo

Hoje praticamente todos aceitam dólares e enquanto as grandes redes de lojas são obrigadas a manter a cotação baseada no cambio oficial, o mesmo não se aplica ao restante do comércio.

Assim, vale a pena ter dólares na mão. O Real também é aceito e está cotado a AR$ 2,50/AR$ 4,20, mas se você tiver dólares poderá fazer excelentes negócios.

Mas nem tudo são flores para o turista. Os preços subiram e em muitos casos não vale a pena comprar porque está ficando mais caro que no Brasil; a violência aumentou e isso representa mais assaltos, mais problemas com motoristas de táxis (que convenhamos nunca tiveram uma fama muito boa) e muitas das grandes marcas foram embora do país.

A Argentina continua sendo um país incrível, com paisagens de sonho (Bariloche, El Calafate, Ushuaia, Salta, Córdoba, etc), com uma infraestrutura excepcional principalmente em Buenos Aires. É um país que vale a pena conhecer, mas não está no melhor momento para quem tem foco em compras ou investimento.

Deixo a todos que me acompanharam e que leram meus posts um grande abraço. Espero que as informações tenham sido úteis.

Nos vemos pelo mundo e, quem sabe, num novo blog.

Hasta pronto compañeros!.





terça-feira, 26 de março de 2013

400 anos de história em uma casa


Olhando da rua Defensa, é impossível imaginar que neste casarão de 1830 haja resquícios dos primórdios da cidade de Buenos Aires.
Vista geral do complexo do museu

Fachada do prédio

Em 1536, o incipiente núcleo urbano de Buenos Aires, que havia sido fundado pelo espanhol Pedro de Mendoza, sucumbiu diante de um incêndio provocado pelos índios querandíes - os originais moradores da área. 

O que restou daquela antiga cidade que estava nascendo ficou sepultado sob o novo núcleo urbano fundado pelo espanhol Juan de Garay, em 1580. 

O casarão que se vê hoje foi construído para uma rica família espanhola de comerciantes de couro, no século XIX mas foi abandonado com o advento da febre amarela, no sul da cidade.

Mais tarde, o edifício tornou-se um cortiço com dezenas de famílias pobres amontoadas. Anos mais tarde, o edifício caiu em desuso e permaneceu fechado até que foi comprado pelos atuais donos que iniciaram um trabalho de limpeza do terreno para construir um restaurante. Foi neste momento, que se descobriu que era um lugar com uma história importante.

Em 1985 foi descoberto de forma acidental "El Zanjón de Granados" debaixo do casarão e, depois de mais de 20 anos de trabalho incessante, resultou na obra de arqueologia urbana mais importante da cidade e uma referência mundial de recuperação histórica.

Durante as obras de recuperação foram retiradas mais de mil toneladas de entulho - restos de cimento, muros, pisos, alicerces e poços construídos e destruídos entre 1730 e 1865.

O complexo do museu está localizado na última quadra da zona sul da cidade fundada por Juan de Garay. Esta não era a última quadra por casualidade senão porque estava no limite de um córrego, um dos três que levavam as águas da parte alta da cidade até o Rio da Prata, que nesta época estava a somente 150 m (hoje está a 2km).

Esses córregos se chamavam os Terceiros e este em particular, o Terceiro do Sul, era conhecido neste trecho como "El Zanjón de Granados".

Alguns dos atrativos do museu são as paredes de tijolo originais, os túneis subterrâneos que conectavam as casas, um sistema de captação de água da chuva com capacidade para 30 mil litros, cacos de cerâmica inglesa, frascos de vidro e cachimbos usados pelos escravos e todo tipo de material deixado no meio do entulho desde 1730.
 
 
 
 

Vale a pena dedicar um pouco de tempo para visitar o local. Há visitas guiadas em espanhol e inglés.

Se você for a Buenos Aires e quiser fazer um passeio diferente, não deixe de visitar o El Zanjón de Granados. Eu tenho certeza que vai se surpreender com a história do local. 

Muito legal!!


Localização: Defensa, 755 - San Telmo
Custo da visita: ARS 60,00 (turistas)  /  AR$ 45,00 (moradores)
Horários:
Segunda a Sexta - de 11:00 a 15:00 h. (Visitas guiadas cada hora).
Domingos - de 13:00 a 18:00 h (Visitas guiadas cada 20 minutos). 


Site de referência: http://www.elzanjon.com.ar/
Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=7jsDXIi5e0k



domingo, 10 de março de 2013

Nova Linha A do metrô


Em 19 de fevereiro de 2012, publiquei um post sobre a linha A do metrô de Buenos Aires - "Linha A - A história viva".

http://conexaoargentina.blogspot.com.ar/2012/02/linha-historia-viva.html

Naquele post eu ressalto a influência histórica que teve essa linha do metrô, a primeira a ser inaugurada há 99 anos, no desenvolvimento da cidade e mostro como foi a emoção de andar nos antigos, porém bem conservados, vagões de madeira.

Pois bem, esses vagões não existem mais. Foram substituídos por moderníssimos vagões chineses. Também algumas estações que ainda preservavam um pouco do conceito original foram ajustadas e adaptadas ao novo modelo proposto. A linha A agora é a super moderna linha de metrô.
Quero deixar bem claro que não sou contra a modernização. Ela é necessária, em especial nestes casos em que as novas demandas de transporte, segurança e praticidade decorrentes do crescimento da cidade são vitais. 

Buenos Aires cresceu, não é mais aquela cidade de 99 anos atrás e não poderia ser. E o transporte público de massa tem que acompanhar esse crescimento.

O que me deixa triste é que uma parte importante da história se foi. Não só do metrô, mas de todas as pessoas que utilizam a linha A. 

Ainda não foi definido o que será feito com os antigos vagões. Alguns devem ir ao Museu Ferroviário, mas é certo que a grande maioria deles deve simplesmente virar sucata. 

A modernização e adaptação a novos padrões de uso é necessária e bem vinda, mas a perda da memória histórica não é aceitável.

Para quem não teve a oportunidade de andar nesses vagões, ficarão as fotos, os filmes, os documentos e os relatos. E claro, um dos motivos para conhecer Buenos Aires, deixou de existir.

Como era:
Como ficou:
 
 
 




domingo, 6 de janeiro de 2013

Sozinho...

Depois de 596 dias ou 1 ano, 7 meses e 17 dias, minha família deixou a Argentina e voltou em definitivo para o Brasil.

A aventura que vivemos nestes dias foi realmente gratificante e todos crescemos muito. Nem tudo foram flores ou facilidades. Houve momentos em que era muito mais simples desistir. Mas consegui manter minha família unida nestes 596 dias.

Só que há coisas que extrapolam a nossa vontade e nesses momentos, quase nunca as decisões mais corretas são as mais fáceis. Pois bem, mesmo com todas as dificuldades da adaptação cultural, com os problemas causados pelo modelo educacional adotado nas escola e a imensa saudade dos amigos e da família, a decisão de enviá-las de volta foi muito, muito complicada e difícil.

Mas não havia muitas opções. A Argentina está passando por um momento político e econômico muito estranho: a cada dia o governo toma mais e mais decisões que alimentam a instabilidade interna e a desconfiança internacional; a taxa de inflação prevista para 2013 já beira os 35% e cresce o risco de hiper-inflação; houve aumento da violência urbana com roubos e saques frequentes; algumas escolas públicas e particulares começaram a punir alunos que expressam opiniões contra o governo; grandes empresas, principalmente as multinacionais, estão encerrando atividades e indo embora do país (você consegue imaginar que Yakult fechou as portas de pois de quase 15 anos porque não conseguia importar maquinário e matéria prima?!). - http://veja.abril.com.br/noticia/economia/yakult-encerra-operacao-na-argentina

Com tanta incerteza sobre o que vai realmente acontecer com o país nos próximos 2 anos, resolvemos que a melhor decisão era regressar a um porto seguro. E assim foi feito. Minhas filhas continuarão os estudos no Brasil e minha esposa poderá continuar com a faculdade e voltar a trabalhar. Independente do que aconteça na Argentina, para elas haverá estabilidade, consistência.

Quanto a mim, vim para ajudar a implementar um projeto e pretendo cumprir minha missão. Meu contrato de trabalho dura até junho, mas pode ser renovado por mais 1 ano, desde que o projeto siga em frente.

Estar longe não é agradável. Nos últimos 7 anos, já estivemos separados algumas vezes, sempre por força do trabalho, mas nunca nos acostumamos a esta situação. Agora será mais uma dessas experiências.

Bem, enquanto as coisas não se ajeitam de melhor forma, é assim que será. 

Um grande 2013 a todos !!!